Imagine a seguinte situação: um parente próximo liga para você durante o horário de trabalho e pede que você lhe transfira 50 reais. Você então desliga o telefone, abre o aplicativo do banco, insere sua senha, navega pelos menus até encontrar a opção de transferência, digita o número do banco, agência e conta corrente do destinatário, o valor, insere a senha e, então, a transfe-rência está feita.
Na cena descrita acima, aparecem dois tipos diferentes de interação. O primeiro deles, simples, direto e objetivo, acontece entre você e seu parente: com uma frase dele ou dela, você se põe em movimento. O segundo ocorre entre você e o aplicativo do banco: sua comunicação com ele é bem mais lenta, já que o aplicativo não tem quase nenhuma capacidade de entender o que você quer além dos botões que você aperta.
É aqui que entra a computação cognitiva. Ela é capaz de criar uma ponte entre esses dois tipos de interação. Foi isso que defendeu Alexandre Dietrich, Líder da Plataforma Watson da IBM, durante sua apresentação em evento organizado pela consultoria Gartner, em São Paulo.
Como nós entendemos as máquinas
São inúmeros os aspectos nos quais os humanos superam as máquinas. Não há nenhuma cri-ação nossa que seja, nem de longe, tão boa quanto nós em questões como moral, empatia, so-nhos e compaixão. As máquinas, por sua vez, nos deixam muito para trás em algumas tarefas, como na identificação de padrões, na eliminação de viéses e na localização de dados e infor-mações específicos.
Mais interessante ainda é a capacidade das máquinas de prover uma capacidade ilimitada de poder de computação. Isso é possível graças às capacidades da nuvem. Os computadores po-dem se comunicar entre si e sincronizar seus conhecimentos de uma maneira que humanos não podem fazer – quase uma espécie de telepatia.
Essas capacidades dos computadores não são suficientes para permitir que eles nos substi-tuam, mas já podem trazer uma enorme quantidade de vantagens para inúmeros ramos de ne-gócios. E esses ramos devem apenas se expandir, na medida que a computação cognitiva per-mite que as máquinas processem ainda mais dados.
Graças à sua capacidade de entender texto e imagens, compreender o significado de dados visuais e até entender emoções presentes em conversações, os sistemas cognitivos têm poten-cial quase infinito de crescimento. Isso porque todos esses sinais poderão servir como novos dados para esses sistemas – e quanto mais dados eles recebem, mais inteligentes eles se tor-nam.
Como as máquinas nos entendem
Assim, dispomos de tecnologia para criar ferramentas extremamente poderosas para algumas aplicações. Os quatro principais ramos de atuação em que podemos facilmente ver os benefí-cios do uso de sistemas cognitivos são conversação, descobertas, decisão e cognição in-corporada.
No caso de “conversação”, a palavra já diz tudo: a computação cognitiva permitirá que nós conversemos com a máquina para realizar tarefas. Voltando ao exemplo do começo do texto: se um parente me pede para que eu transfira 50 reais, porque eu não posso pedir ao meu celu-lar que transfira 50 reais da minha conta para a de meu parente? E esta é apenas uma das aplicações.
Outra delas, com imenso potencial, é atendimento: ninguém gosta de precisar ligar em um call center para pedir ajuda. Sistemas cognitivos podem atuar nessa demanda e entregar níveis de satisfação muito maiores. A IBM, por exemplo, criou um sistema chamado IT Help para ajudar seus funcionários no suporte a recursos tecnológicos. O nível de satisfação com o sistema chega a 92%, uma nota que nenhum help desk da empresa atingiu.
“Descobertas” são os insights de mercado que a computação cognitiva nos dá. Trabalhamos com volumes imensos de dados, e nenhum ser humano é capaz de dar sentido à montanha de informações de que dispomos. Já os sistemas cognitivos lidam facilmente com essa demanda, e conseguem nos dar uma visão de negócios que é um diferencial incomparável.
Dessas descobertas, partimos para as “Decisões”: munidos dos conhecimentos que a compu-tação cognitiva nos oferece, somos capazes de decidir com muito mais assertividade sobre o futuro de nossos serviços. Seguimos sem a capacidade de ver o futuro, mas com ferramentas cognitivas, nos tornamos capazes de estimar o futuro com uma precisão até então desconhe-cida – e com grande possibilidade de crescimento para nossos negócios.
Todas essas perspectivas se multiplicam pela “Cognição Incorporada”: a habilidade de ex-trair dados e informações de objetos que, atualmente, não os produzem. Aqui falamos da ten-dência de “internet das coisas”: conforme mais dispositivos do nosso dia-a-dia passarem a pro-duzir dados que possam ser usados para ensinar as máquinas sobre nosso comportamento, mais casos de aplicação para computação cognitiva devem surgir.
Construindo a ponte
Todas essas possibilidades necessitam de uma plataforma de desenvolvimento para se con-cretizar. A IBM pretende oferecer essa plataforma com o Bluemix, um ambiente de desenvolvi-mento que integra diversas APIs do supercomputador Watson, sua solução de computação cognitiva. Por meio da Bluemix, é fácil integrar funções como processamento de linguagem na-tural, compreensão de imagens, conversão de voz a texto e outros recursos cognitivos aos seus aplicativos.
As APIs do Watson são oferecidas nesse modelo para otimizar seu funcionamento e, ao mesmo tempo, reduzir seu custo. Hospedado na nuvem, o Watson tem acesso ao máximo pos-sível de dados. Ao mesmo tempo, pode ser oferecido a um custo muito menor: ele está dispo-nível gratuitamente, num primeiro momento, para prototipagem, mas pode também ser pago para funcionar em workflows mais complexos de desenvolvimento.
O Watson é capaz de orquestrar dados de diversas origens diferentes. Quer suas informações estejam na sua cloud privada, quer estejam em uma cloud pública, ou ainda uma máquina de-dicada em outro data center, ele pode gerenciar todas elas para gerar conhecimento. Também por isso, a IBM vê a infraestrutura de TI híbrida como uma forte tendência para o futuro.