Após o início da produção de carros no mundo, a possibilidade de percorrer distâncias maiores em menos tempo mudou a maneira como as pessoas viviam, se relacionavam e produziam. A indústria da época se desenvolveu e criou produtos que movem pessoas e seus sonhos. Mas, hoje em dia, dois séculos depois, nos questionamos: o que ocorrerá com a mobilidade das pessoas daqui para frente?

Temas como aumento de vendas de automóveis e redução de emissões são fatores levados em consideração nesse debate, mas para se formar uma visão de futuro é necessário ampliar significativamente essa discussão. Hoje, a mobilidade é tema central das empresas automotivas e os consumidores têm outras expectativas em relação a novos produtos e lançamentos.

Quando se fala no futuro da mobilidade, muitos pensam no metrô como sendo a solução ideal, justamente por sua pontualidade, organização e eficiência. Porém, precisamos refletir: por que as centenas de quilômetros de metrô não resolveram o problema do trânsito em Londres? Eu me arrisco a afirmar que é porque a resposta não está em um único modal e nem nas infinitas ampliações de infraestrutura viária – outra opção que aparece bastante nas pesquisas sobre o tema. O caminho pode ser apostar na integração e otimização do uso dos diferentes transportes, que ocorrerão por meio da tecnologia. 

Nesse contexto, qual será o papel do automóvel? Creio que vários aspectos devem ser considerados para responder a essa questão: mudança cultural de posse por usabilidade, crescente avanço do acesso à tecnologia/conectividade e discussões sobre o transporte individual em detrimento ao coletivo.

Falar sobre veículos autônomos é uma maneira de abordar todos esses aspectos ao mesmo tempo. O veículo, em seu modo autônomo, será um dos pilares da mobilidade do futuro. Para entender o porquê dessa afirmação, considere três perguntas essenciais, que são importantes para descobrir se uma boa ideia pode se tornar um ótimo negócio: existe interesse dos consumidores? Existe tecnologia para implementar? Existe um modelo de negócio sustentável e lucrativo? Respondendo a essas perguntas, reforço que veículos autônomos serão um dos pilares da mobilidade.

Há interesse dos consumidores por veículos autônomos no Brasil?

Pesquisa da consultoria Deloitte, divulgada em fevereiro deste ano, mostra que 85% dos brasileiros entrevistados consideram seguro andar em um carro sem motorista. O levantamento também mostra que 68% dos brasileiros estariam dispostos a pagar um adicional na compra de um carro autônomo. Além disso, é importante levar em consideração que consumidores brasileiros são entusiastas por novidades, estão sempre conectados e demandam tecnologia de ponta a custos acessíveis. Por esses motivos, os autônomos já despertam enorme interesse, inclusive dos poderes público e privado. Esse movimento vai afetar a sociedade como um todo em vários segmentos, e não apenas no automotivo, trazendo mais segurança, inclusão e liberdade.  

Existe tecnologia para viabilizar veículos autônomos no Brasil?

Há uma corrida internacional para o desenvolvimento desse tipo de veículo. Empresas automotivas e de tecnologia estão investindo fortemente. E no Brasil? Essa é uma excelente discussão e a resposta não é trivial. Para os otimistas, podemos dizer que a tecnologia que está sendo desenvolvida pelo mundo pode ser utilizada no País após passar por adaptação. Contudo, outros fatores como infraestrutura e legislação influenciarão na velocidade de chegada desses produtos ao mercado local.

Existe um modelo de negócio sustentável e lucrativo para o veículo autônomo?

São quatro os principais fatores que geram custo no deslocamento: energia, mão de obra, equipamento (veículo) e taxa de utilização. Vamos deixar de lado a questão do gasto com energia, pois essa é pouco influenciada pela direção autônoma. De maneira intuitiva, conseguimos dizer que o valor da mão de obra vai diminuir e a taxa de utilização aumentar, isso porque o veículo autônomo dispensa o motorista, e pode rodar continuamente, aumentado a utilização e diminuindo o custo de operação. Sobre o equipamento, atualmente, a tecnologia empregada ainda é muito cara. Porém, nos próximos anos, os preços de bateria, radares e dispositivos de processamento de dados devem cair significativamente. Dessa forma, o custo da operação também dever baixar, havendo enorme potencial comercial a ser explorado.

Os carros vão, sim, existir na mobilidade do futuro. Em alguns anos, serão autônomos, elétricos e conectados. No mesmo caminho, as cidades inteligentes vão transformar a experiência do uso do veículo de maneira que ainda nem imaginamos. Existe uma jornada até a chegada dos autônomos, em que serão utilizados cada vez mais carros compartilhados e plataformas de mobilidade. Isso sem contar o uso intenso de novas tecnologias, que possibilitam mais conectividade e eletrificação. Os beneficiados seremos nós, consumidores. Bem-vindo à jornada da mobilidade do futuro: sua vida será melhor!