Uma descoberta feita esta semana pode resolver um mistério de 43 anos. Em 1988, após 30 anos de operação, o Big Ear Radio Telescope da cidade de Delaware, em Ohio, foi desativado e desmontado. Ele nunca foi o maior nem o mais sensível radiotelescópio do mundo, mas fez uma das observações mais famosas da astronomia, sem explicação até os dias de hoje: o sinal “Wow!”.

O Big Ear foi usado para buscar sinais de vida extraterrestre ao longo da década de 1970. Em 15 de agosto de 1977, ele encontrou um. Era um sinal forte e intermitente que durou 72 segundos, e destacava-se pelo ruído de fundo, como um holofote em uma noite escura.

A equipe de operação do telescópio rapidamente descartou uma possível origem terrestre ou transmissão de um satélite. O sinal, entretanto, era tão poderoso e incomum que o astrônomo responsável pela impressão dos dados, Jerry Ehman, anotou uma palavra ao lado: “Wow!”.

Posteriormente, o diretor do laboratório, John Kraus, contou alguns detalhes sobre a observação. “O ‘sinal Wow’ é altamente sugestivo de origem inteligente extraterrestre, mas pouco mais pode ser dito até que retorne para um estudo mais aprofundado”, escreveu em uma carta ao astrônomo Carl Sagan.

Reprodução

Dados do sinal “Wow!”. Imagem: Big Ear Radio Observatory e North American Astrophysical Observatory/Reprodução

A equipe do Big Ear continuou vasculhando o espaço, mas o sinal nunca mais foi encontrado, nem nada parecido com ele, em qualquer outra parte do céu. Os astrônomos até procuraram estrelas que pudessem ser a fonte do sinal, mas sem sucesso. Até hoje, o sinal “Wow!” permanece inexplicado.

A descoberta de uma possível fonte para o sinal nesta semana é um passo importante. Essa revelação é o resultado de uma investigação feita por um astrônomo amador e da criação de um novo e impressionante mapa 3D da galáxia.

Em 2013, quando a Agência Espacial Europeia (ESA) lançou o observatório espacial Gaia para mapear o céu noturno, determinando a posição, distância e movimento das estrelas com precisão nunca antes vista. Até agora, o observatório mapeou cerca de 1,3 bilhão de estrelas, permitindo aos astrônomos criar o mapa 3D mais detalhado de nossa galáxia já feito. A missão acaba em 2024.

O novo mapa estelar melhorou significativamente nossa compreensão sobre a galáxia e estrelas que fazem parte dela. Obviamente, o banco de dados de Gaia é muito mais detalhado que o catálogo estelar usado por John Kraus em 1977. Com isso em mente, o astrônomo amador Alberto Caballero teve uma ideia: procurar a fonte do sinal “Wow!” novamente.

Ele então repetiu a busca feita pelo Big Ear, procurando estrelas parecidas com o Sol entre as milhares identificadas por Gaia na região. O critério de semelhança com o astro eram temperatura, raio e luminosidade. Se parecidos, isso se transformava em uma fonte em potencial. 

Reprodução

Estrela 2MASS 19281982-2640123. Imagem: PanSTARRS/DR1

“A única estrela potencialmente semelhante ao Sol em toda a região do “Wow!” parece ser a 2MASS 19281982-2640123″, afirma o astrônomo. Essa estrela de nome longo é idêntica ao nosso Sol: mesma temperatura, luminosidade e raio. A grande diferença é que ela fica na constelação de Sagitário, a 1.800 anos-luz da Terra.

Ainda assim, Caballero ressalta que há muitas estrelas naquela região, algumas fracas demais para serem incluídas no catálogo. Desta forma, a fonte pode ser uma delas, e não seria, necessariamente, a maior estrela da região.

Ele identificou outras 66 candidatas em potencial, mas com menos evidências. As temperaturas são semelhantes, mas dados sobre raio e luminosidade permanecem ainda incompletos. Futuramente, mais informações enviadas por Gaia ou por outra missão de mapeamento podem encontrar mais correspondências entre as estrelas.

Por enquanto, nossa melhor opção é a 2MASS 19281982-2640123. Para Caballero, o próximo objetivo seria encontrar sinais de exoplanetas orbitando esta estrela. Grandes segredos do universo podem estar escondidos ali.

Via: Astronomy Magazine