“Para Todos os Garotos: P.S. Ainda Amo Você” é a continuação de “Para Todos os Garotos Que Já Amei” (2018), comédia romântica adolescente em que Lara Jean (Lana Condor) escrevia cartas para pretendentes que nunca as recebiam, até que sua irmãzinha Kitty (Anna Cathcart) resolve mandar as cartas, mudando sua vida para sempre (tornando-a visível, segundo sua própria ideia). O primeiro longa foi disponibilizado para não assinantes também, como noticiou o Olhar Digital nesta semana, como aperitivo e chamariz para a continuação.

Teria sido o filme ideal para essa ação? O formato adolescente diz que sim. O aspecto fórmula de sucesso, contudo, parece jogar contra a ideia da Netflix de fortalecer sua marca por um ponto de vista autoral, como indicavam “O Irlandês” e “Joias Brutas”, suas duas badaladas produções do final de 2019. Por vezes, querer abraçar o mundo não dá muito certo, mas é inegável o apelo desses dois filmes para atrair novos assinantes.

O lado fórmula, coisa do famigerado algoritmo da Netflix, se comprova forte. Basta ver que a direção de Susan Johnson no primeiro filme é seguida de perto, no estilo espertinho/acadêmico, por Michael Fimognari, neste segundo. Mas principalmente a narrativa caminha dentro dos mesmos trilhos e encontra percalços semelhantes. O que resulta na quase impossibilidade de alguém que gostou do primeiro não gostar deste, que já começa com a primeira saída de namorados de Lara e Peter Kavinski (Noah Centineo).

Se no primeiro havia a incerteza do relacionamento promissor por causa da timidez e falta de iniciativa de Lara, neste segundo longa, o conflito inicial (com a ex-namorada de Peter, Gen (Emilija Baranac) é fortalecido pela chegada de um dos destinatários das cartas de amor enviadas pela irmã no primeiro filme, John Ambrose McLaren (Jordan Fisher), que responde a carta e depois encontra Lara por acaso num serviço voluntário em que ambos se inscrevem.

A recém-comprometida Lara fica, então, dividida entre o garoto que sempre amava em segredo e um outro, a quem já tinha amado na pré-adolescência, também em segredo, e que agora reaparecia como um fantasma. Como fantasmas não morrem facilmente, está estabelecida a confusão amorosa de Lara Jean.

Fórmula e algoritmo a parte, uma comédia romântica adolescente, desde que não apele demais para o sentimental ou para o escatológico, tende a ser sempre vista com interesse. A adolescência é uma fase terrível pela qual todos nós passamos. Sentimos saudades dessa época de ignorância e perdições mentais, mas também de muita vivacidade e sinceridade, de uma maneira peculiar.

Logo, se este segundo longa, como o primeiro, não muda nada no curso da história, ao menos podemos vê-lo sem dificuldade ou transtorno. Tudo caminha nos trilhos, mas por vezes é certinho demais.

* Sérgio Alpendre é crítico e professor de cinema