O veterano diretor Martin Scorsese recentemente declarou uma guerra entre os diretores de sua geração, a chamada Nova Hollywood, e os diretores que recebem os polpudos cheques do império Marvel/Disney. Por consequência, é uma guerra ao império que está dominando (e destruindo) a indústria de entretenimento. 

Ao dizer para a revista britânica Empire, em matéria repercutida em The Guardian, que os filmes de super-heróis atuais não são cinema, despertou a ira de alguns fanáticos e a vontade dos cinéfilos em geral de cerrar fronteiras, contra ou a favor dele. 

E volta uma discussão que se assemelha a que retomei outro dia por aqui (a que passava pela falsa dicotomia entre arte e entretenimento). E a discussão atual é sobre o que seria cinema e o que não seria cinema. 

De certo ponto de vista, os filmes da Marvel não seriam cinema porque seriam entretenimento. Enquanto os filmes de Scorsese seriam cinema porque seriam arte. Captaram a semelhança? Pois bem, é exatamente isso que voltaram a discutir, e não posso dizer que a discussão não é saudável.

Mas Scorsese, embora equivocado na essência, tem um ponto interessante: os filmes de super-heróis, ao apostar muito mais em efeitos especiais e coisas explodindo na tela do que no trabalho dos atores, não flagram os dramas humanos, e por esse motivo não seriam cinema. 

Pessoalmente, tenho preferência pelos filmes da Marvel que justamente focam no drama humano, e exemplifico: Capitã Marvel é assim, Capitão América: O Primeiro Vingador é assim, Homem Aranha: Longe de Casa também é assim. Não à toa são os melhores filmes de super-heróis desta década, deixando a série dos Vingadores, com sua montanha-russa infantilizada, para trás.

Apesar disso, há momentos de arte, ou seja, de cinema, de acordo com o que pensa Scorsese, em vários outros filmes da Marvel. Vingadores: Guerra Infinita, por exemplo, tem algumas imagens bem interessantes, justamente nos momentos calmos. Mas não tente achar cinema nas partes de lutas, de ação, desses filmes. É quando eles se aproximam demais do universo dos games e se afastam bastante do cinema, que é outra coisa.

O assunto rende mais, e por isso voltarei a ele no futuro.