Em março, a organização do Festival de Cannes, um dos mais prestigiados festivais de cinema do mundo, decidiu que não permitiria mais a participação de filmes da Netflix na competição pelo prêmio Palma de Ouro.

Nesta semana, a Netflix decidiu desistir de participar do festival como um todo, inclusive da mostra não-competitiva. Trata-se da mais recente escalada em uma disputa que parece longe do fim: a da empresa de streaming contra a indústria tradicional de cinema.

No ano passado, a organização do Festival de Cannes definiu que, para entrar na competição pelo Palma de Ouro, o filme precisa ser exibido em cinemas da França. A decisão veio depois que exibidores e distribuidores reclamaram da presença de filmes da Netflix na competição do ano passado.

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Em 2017, “Okja” e “Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe” foram filmes originais da Netflix que competiram pelo Palma de Ouro em Cannes. Na época, a empresa chegou a exibir os filmes em algumas salas de cinema dos Estados Unidos por pouco tempo, só para poder entrar na competição.

Neste ano, porém, o diretor artístico de Cannes, Theirry Freumax, decidiu atender aos protestos de distribuidores e exibidores tradicionais e colocou em prática a regra formalizada no ano passado de banir filmes que não foram exibidos em cinemas franceses.

“O pessoal da Netflix adorou o tapete vermelho e adoraria estar presente com outros filmes. Mas eles entendem que a intransigência do modelo deles é agora oposta ao nosso,” explicou Theirry ao The Hollywood Reporter, na ocasião.

Em entrevista à Variety, o líder de conteúdo da Netflix, Ted Sarandos, confirmou a saída da empresa do festival em definitivo. “Queremos que nossos filmes estejam em pé de igualdade com o de qualquer outro cineasta. Existe um risco de que a gente vá até lá desse jeito e tenhamos nossos filmes e cineastas desrespeitados. Eles deram o tom. Não acho que seria bom para nós estarmos lá.”

A opção para a Netflix participar seria se a empresa colocasse seus filmes no cinema francês. O problema é que as leis que regulam o mercado audiovisual da França exigem que um filme lançado no cinema seja mantido longe de serviços de streaming por até 36 meses, o que vai contra o modelo de negócios da Netflix.

“Esperamos que eles mudem as regras. Esperamos que eles se modernizem”, disse Sarandos à Variety. “Nós escolhemos ser o futuro do cinema. Se Cannes escolheu ficar preso no passado do cinema, tudo bem.”