Boa parte dos animais, vertebrados e invertebrados, possuem dentro das suas células uma atividade elétrica constante, em frequências extremamente baixas (“extremely low-frequency”, ou ELF), com uma frequência que varia entre 5 a 45 Hertz. A origem desse “zumbido” elétrico é desconhecida, mas um estudo publicado no International Journal of Biometeorology sugere que tenha vindo dos campos elétricos observados na atmosfera.
“Durante bilhões de anos, durante a história evolutiva dos organismos vivos na Terra, as frequências ressonantes eletromagnéticas naturais na atmosfera, geradas continuamente pela atividade dos raios, forneceram os campos elétricos de fundo para o desenvolvimento da atividade elétrica nas células”, afirmam os pesquisadores.
Em alguns animais, segundo os cientistas, é até difícil distinguir entre o espectro elétrico do campo elétrico atmosférico produzido pelos raios na natureza. “A atividade elétrica em muitos organismos vivos – do zooplâncton nos oceanos aos nosso cérebro – é muito semelhante aos campos elétricos que medimos e estudamos na atmosfera”, afirma o principal autor do estudo, o professor da Escola Porter de Ciências do Ambiente e da Terra da Universidade de Tel Aviv, Colin Price.
Nos animais, essa atividade elétrica pode ser observada no sistema nervoso, percorrendo todo o corpo e controlando todo tipo de funções biológicas. Independentemente das diferenças no tamanho e na complexidade do cérebro, muitos tipos diferentes de espécies exibem atividades de baixa frequência semelhantes às vistas na atmosfera.
“Nem biólogos nem médicos podem explicar por que as frequências nos organismos vivos são semelhantes às frequências na atmosfera causadas por raios”, explica o professor. “A maioria deles nem sequer tem consciência da semelhança que apresentamos em nosso artigo”. Price estuda campos de ELF há 25 anos, e vem coletando evidências de que os campos elétricos atmosféricos têm um impacto sobre os organismos, desde as células cardíacas de ratos até os relógios biológicos em humanos.
O novo estudo propõe que, ao longo de bilhões de anos, à medida que os organismos evoluíram na Terra, as frequências eletromagnéticas naturais na atmosfera geradas pela atividade de raios influenciaram significativamente o desenvolvimento da atividade elétrica nas células biológicas. Para Price, é provável que essa influência tenha sido maior nos estágios iniciais da evolução, quando as espécies tendiam a ser relativamente simples e primitivas.
“Em escalas de tempo evolutivas, ao longo de bilhões de anos, as formas de vida podem ter usado o que a natureza lhes deu e, de alguma forma, sincronizadas com essas frequências ou adaptadas a elas”, acredita o pesquisador.
A cada segundo, 50 a 100 raios atingem o solo da Terra, criando um campo eletromagnético que pulsa, como um coração, a uma frequência de ressonância de que vai de 3 Hz a 60 Hz, com picos de 7,83 Hz – essa é a chamada Ressonância Schumann. Price sugere que as células primordiais podem, de alguma forma, sincronizar sua atividade elétrica com essas ressonâncias atmosféricas naturais, particularmente a ressonância de pico próximo a 8 Hz.
Essa sincronização não é incomum. Sincronizamos nosso ritmo circadiano (o famoso “relógio biológico”) com a passagem dos dias e estações. “A evolução explora o que pode”, avalia o biólogo da Universidade Tufts, em Massachusetts, Michael Levin. “Quando os seres vivos são protegidos [bloqueados] de um campo geomagnético, eles não se desenvolvem corretamente”.
A pesquisa pode levar a aplicações médicas, mas de acordo com os cientistas as ondas elétricas são um estado natural e pelo qual estamos constantemente cercados. “Vivemos nesses campos, nos adaptamos a eles, evoluímos com eles e eles podem ter afetado nossa evolução”, acredita Price. “Mas não acho que esses campos estejam nos afetando diretamente hoje. Caso contrário, toda vez que houvesse uma tempestade nas proximidades, estaríamos desmaiando ou algo assim”.
Via: Newsweek/LiveScience