Uma tela dobrável. Parecia óbvio que esse seria o diferencial e, ao mesmo tempo, o pesadelo do Galaxy Fold. Apesar de todo o trabalho de desenvolvimento, foi exatamente o que aconteceu com o design ousado escolhido pela fabricante sul-coreana: quando o aparelho chegou às mãos de especialistas para testes, foi exatamente na tela que as falhas apareceram.

Isso levou a Samsung a cancelar por tempo indeterminado a distribuição do modelo, enquanto conduz uma investigação interna para entender o que houve com as unidades que apresentaram defeito. Em comunicado oficial, a companhia informa que vai reforçar a proteção da tela e buscar formas mais eficientes de avisar o consumidor sobre como cuidar dela.

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Enquanto isso, a empresa está pedindo que os dispositivos enviados para teste sejam devolvidos. Ainda é muito cedo para saber o que deve ser feito, mas pode ser necessária, por exemplo, uma intervenção no desenho do modelo.

Os primeiros resultados da investigação da Samsung mostram que as áreas expostas da dobradiça são, aparentemente, mais sensíveis que o esperado. Ainda não é o momento, entretanto, para decisões definitivas: só os fatos e a equipe de desenvolvimento podem dizer qual deve ser o caminho a seguir.

Aprendizado acumulado

O que se pode notar até aqui, porém, é que a companhia aprendeu com os erros já cometidos — especialmente quando houve um defeito grave no Galaxy Note 7, em 2016 (a bateria do modelo explodia e foi necessário tirá-lo de linha). Isso é essencial para a reputação da marca, já que o mundo todo está observando os movimentos da Samsung neste momento e ela precisa saber quando é hora de se retirar ou de se impor. 

Adiar o lançamento do Galaxy Fold depois de ter se apressado para ser a primeira a oferecer um aparelho dobrável pode atingir a marca e fazer o modelo perder toda a distinção que obteve, mas certamente foi a decisão mais acertada. E o assunto certamente vai dar o que falar: afinal, envolve o que o dispositivo significa para a Samsung, para os interessados em comprá-lo e para a concorrência. Teria a companhia sul-coreana se descuidado no controle de qualidade na correria?

Vale lembrar que se trata de um eletrônico de luxo que vai custar perto de US$ 2 mil — ou seja, não é voltado ao mercado de massa. Em geral, early adopters sofrem com os problemas típicos de quem decide apostar na inovação que eles representam — e, muitas vezes, o fazem pelo status.

Além disso, novos conceitos têm mais chances de apresentar erros e, no fim das contas, é nas mãos do consumidor que, de fato, se testam as possibilidades. Isso, obviamente, não exime a Samsung de responsabilidade por possíveis falhas. 

Essa parada no processo de distribuição do dispositivo demonstra que a companhia está levando o caso a sério. Parar para avaliar as opções, além de permitir que se ganhe tempo para corrigir as falhas, funciona como uma forma de se desculpar com os consumidores. E essa é a única chance que a Samsung vai ter de fazer tudo certo.

É a hora dos concorrentes

Todos os problemas relatados no Galaxy Fold podem ser usados para questionar a habilidade da Samsung para inovar. O Mate X, da Huawei, que deve ser seu concorrente mais próximo, tem, além da capacidade 5G, design completamente diferente: a tela dobra do lado de fora, não de dentro.

Esse pode ser justamente o ponto mais forte do dispositivo, já que, apesar de o display ficar mais exposto, parece ser bem mais robusto — e a fabricante chinesa trabalha a todo vapor para lançar o aparelho no último trimestre do ano.

Além do Mate X, um modelo que pode incomodar a Samsung é o Razr, da Motorola. Isso porque ele vai usar a configuração mais simples possível: o antigo formato do modelo de flip com uma tela interna que cobre toda a extensão do dispositivo. O preço estimado do dobrável da Motorola é de cerca de US$ 1500 — ou seja, mais barato que os concorrentes.

Uma das maiores preocupações em meio ao furacão que envolveu o mercado depois desse episódio é o fato de que a má vontade em relação ao Galaxy Fold pode contaminar os outros dobráveis. É essencial, então, que os rivais cheguem com telas que funcionam e designs atraentes para ajudar a mudar a percepção sobre essa modalidade de aparelho.

É bastante provável que, neste momento, as equipes de desenvolvimento da Huawei e da Motorola estejam fazendo anotações e buscando soluções para problemas que nem sequer existem em seus produtos. Nessa competição, pode ser que o vencedor seja justamente quem for capaz de errar menos. 

Cabe à Huawei e à Motorola aproveitar o tempo extra que ganharam — já que, com o atraso no lançamento do Galaxy Fold, elas podem manter seus cronogramas (ou até torná-los um pouco mais elásticos) com a tranquilidade de que não há um concorrente já nas mãos dos clientes. Elas devem saber que, ao chegar às prateleiras, seus produtos devem estar o mais perfeitos possível.