Um estudo realizado pela Online Privacy Foundation e divulgado nesta segunda-feira, 31, comprovou que é possível fazer as pessoas mudarem de opinião usando publicidade bem direcionada no Facebook.
A possibilidade já era cogitada e o próprio cofundador e diretor da organização, Chris Summer, ressaltou, em entrevista ao The Guardian, que os resultados não chegam a surpreender, apesar de serem preocupantes. O que o estudo fez foi escancarar a situação.
Para chegar às conclusões, os pesquisadores usaram psicografia — a descrição psicológica de uma pessoa. É possível aplicar esse conceito a usuários do Facebook tendo como base apenas preferências que essas pessoas apresentam publicamente.
Summer e seu time puxaram dados capazes de formar grupos de acordo com quão autoritários eram seus membros — os mais autoritários tendiam a ter preferências políticas mais conservadoras, enquanto na linha oposta ficavam os mais liberais.
Para testar se a classificação estava correta, os pesquisadores mostraram a essas pessoas a seguinte frase: “A respeito da privacidade na internet: se você não fez nada de errado, não tem nada a temer.” Dentre os pouco autoritários, apenas 25% concordaram; dentre os muito autoritários, a taxa subiu para 61%. A classificação estava certa.
Então, a ONG resolveu tentar converter os estudados ao lado oposto. Para isso, mostrou aos conservadores uma publicidade que exibia uma foto de soldados que participaram do Dia D com o slogan: “Eles lutaram pela sua liberdade. Não jogue isso fora!” Enquanto isso, o outro grupo via a seguinte mensagem: “O crime não para onde a internet começa: diga SIM à vigilância estatal.”
Os dois grupos acabaram caindo na arapuca e em ambos os lados teve gente que se sentiu confortável o suficiente para compartilhar aquelas mensagens — mesmo que elas violassem parcialmente os fundamentos daquilo em que aquelas pessoas acreditam.
O Facebook não só permite aplicar psicografia para perfilar seus usuários como ainda incentiva o uso do recurso por políticos, considerando-o a forma perfeita de “persuadir eleitores” e “influenciar resultados online e offline”. Entretanto, como ressalta o Guardian, há quem tema que esse tipo de ação represente um risco à democracia, uma vez que o recurso apela ao lado mais obscuro dos eleitores sem que eles tenham chance de perceber.