Um grupo de pesquisadores brasileiros e americanos se debruçou sobre o comportamento das crianças no YouTube para tentar entender como a plataforma lida com a presença de um tipo de usuário que, a rigor, muitas vezes nem deveria estar circulando por lá.

O estudo envolveu gente da Universidade Federal de Minas Gerais, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e de Harvard. Eles analisaram 12.848 vídeos de 17 canais nos Estados Unidos e Reino Unido e outros 24 no Brasil, além de 14 milhões de comentários. Só os canais em inglês tinham mais de 37 bilhões de visualizações.

“Com base em uma combinação de análise textual e ferramentas de reconhecimento facial, mostramos a presença de viés racial e de gênero na nossa grande amostra de usuários”, diz o estudo (que pode ser lido, em inglês, aqui). “Também identificamos crianças usando o YouTube ativamente, embora a idade mínima para usar o serviço seja de 13 anos na maioria dos países.”

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Essa é a regra para os EUA, por exemplo, mas na Espanha e na Coreia do Sul o site só pode ser usado por quem esteja acima de 14 anos. Na Holanda, a restrição é ainda maior: 16 anos; só que o nosso país é o mais severo. “No Brasil, (…) o uso do YouTube é restrito àqueles acima de 18 anos, de acordo com os termos de serviço da plataforma, que são claros em afirmar que o YouTube não é apropriado para jovens abaixo de 18 anos”, dizem os pesquisadores.

A questão é que a base de financiamento do YouTube é a publicidade, “o que torna a propaganda ubíqua no dia a dia das crianças”. “Como consequência”, segue o documento, “várias questões sobre o papel da publicidade na vida da criança surgem. Que formas de propaganda as crianças encontram na internet? Como as crianças reagem à publicidade online?”

Algumas formas de anúncio potencialmente danosas foram identificadas pelos pesquisadores, que fazem o alerta: “Há estratégias de marketing que miram crianças no YouTube com publicidade disfarçada de outro conteúdo.” Um exemplo são os “advergames”, jogos criados para promover uma empresa ou seus produtos, e também publicidade de comidas e bebidas pouco saudáveis — coisas que a legislação brasileira não tolera justamente porque as crianças muitas vezes não têm discernimento para entender o que é entretenimento puro e o que é propaganda.

Em nota enviada ao Engadget, o Google lembrou que, por ser oferecido gratuitamente, o YouTube depende da publicidade para se sustentar. “Usuários abaixo de 13 anos deveriam usar o YouTube Kids — um app gratuito desenvolvido para famílias —, que exclui certas categorias de publicidade para garantir uma experiência apropriada de acordo com a idade”, afirma a empresa.