Como se o Facebook não inventasse coisas suficientes, a empresa anunciou ontem uma nova unidade de medida de tempo – semelhante a segundos, minutos ou anos, mas muito menor. A unidade em questão foi chamada de “Flick”, e tem a duração absurdamente pequena de 1/705.600.000 segundos (ou seja, um segundo dividido em 705.600.000 partes iguais).
Uma vez que cada segundo contém setecentos e cinco milhões e seiscentos mil “flicks”, a unidade não é muito útil para a medição de tempo da nossa vida cotidiana. Mas essa não é a finalidade dela, na verdade: a nova unidade de tempo foi estabelecida para ajudar produtores de vídeo e de áudio a ter representações digitais mais fiéis de suas criações.
Sempre com números inteiros
Você já deve ter ouvido falar na taxa de quadros dos vídeos: 24, 30, 60 ou 144 quadros por segundo, por exemplo. Essa taxa representa o intervalo de tempo que cada quadro individual do filme permanece na tela. Um filme que rode a 24 quadros por segundo, por exemplo, é composto por 24 “fotos” a cada segundo de sua duração; assim, cada quadro fica apenas 1/24 segundos na tela. No cas de áudio gravado a 44,1 kHz, cada “sample” de áudio dura meros 1/44100 segundos.
O problema é que para fins de áudio e vídeo digital, é necessário trabalhar com números inteiros. E, em alguns casos, não é possível fazer isso usando as unidades de tempo já existentes. No caso de vídeo, isso é mais raro, mas imagine um áudio gravado a uma taxa de 192 kHz. Isso significa que cada sample de áudio dura ínfimos 0.00000520833 segundos. Mesmo que você trabalhe com nanossegundos, ainda são 5208,33333 nanossegundos por sample – o que não é um número inteiro.
Foi justamente para resolver esse problema que o Facebook diz ter criado os “flicks”. Usando essa medida de tempo, todas as taxas de reprodução e sampleamento dos formatos mais padrões de vídeo e áudio podem ser divididas em números inteiros. No caso de um filme a 24 quadros por segundo, cada quadro dura 29.400.000 “flicks”. No caso de um áudio gravado a 192 kHz, cada sample dura 3675 “flicks”.
E faz diferença?
Segundo o Facebook, o uso de números “quebrados” para representar tempo em arquivos digitais tem dois problemas: primeiro, ele pode acabar causando a degradação da precisão temporal do arquivo ao longo do tempo. Segundo, se o criador preferir arredondar os números quebrados para os números inteiros mais próximos, ele acaba ficando com uam representação levemente imperfeita de sua criação.
Isso pode não significa muita coisa para nós, e por isso o The Verge perguntou à sua equipe de vídeo se essa nova medida de tempo poderia fazer diferença. A resposta dela foi que, em tese, poderia ser de fato interessante. Mas como eles ainda não tiveram a oportunidade de ver essa diferença na prática, ninguém da equipe quis “colocar a mão no fogo”.
Embora a criação possa parecer fútil, ela é na verdade fruto de pelo menos um ano de imaginação e debate. Em novembro de 2016, o desenvolvedor Christopher Horvath propôs a ideia por meio do próprio Facebook, chegando até mesmo a criar uma tabela para demonstrar como a nova unidade de tempo seria mais adequada. O post pode ser visto abaixo: