A ProPublica realizou em outubro do ano passado um estudo que deu base para que usuários processassem o Facebook por discriminação racial em anúncios de empregos e imóveis. Ontem a agência refez o estudo e concluiu que a rede social segue permitindo que seus anunciantes impeçam pessoas de determinados grupos étnicos e sociais de verem seus anúncios.
Segundo a instituição, na semana passada ela comprou “dúzias de anúncios de aluguéis de imóveis” na rede social. Usando as ferramentas de direcionamento de propagandas da plataforma, ela conseguiu impedir que os anúncios fossem vistos por “afro-americanos, mães com filhos no ensino médio, pessoas interessadas em rampas para cadeiras de rodas, judeus, expatriados da Argentina e falantes de espanhol“, entre outros grupos (cada link leva aos prints dos anúncios aprovados).
Cada um desses grupos, de acordo com a ProPublica, é protegido por uma lei dos Estados Unidos chamada de “Fair Housing Act”. Essa lei proíbe a veiculação de qualquer anúncio “com respeito à venda ou aluguel de casa que indique qualquer preferência, limitação ou discriminação com base na raça, cor, religião, sexo, deficiência, estado civil ou origem nacional”. As multas aos infratores podem chegar a US$ 75 mil (R$ 244 mil) pela primeira infração, e a US$ 150 mil (R$ 489 mil)no caso de recorrências.
As única mudança que a ProPublica percebeu entre o ano passado e este ano foi que a categoria “afinidade étnica” foi mudada para “afinidade multicultural” e não estava mais na categoria “Demografia”, mas na categoria “Comportamentos”. A agência diz ter excluído todos os anúncios assim que eles foram aprovados.
Sem ver a quem
De acordo com a instituição, cada um desses anúncios foi aprovado em menos de três minutos. O único que levou mais tempo foi um anúncio que buscava impedir o aluguel do imóvel por pessoas “interessadas em Islamismo, Sunismo ou Xiísmo”. Mesmo ele, no entanto, foi aprovado em 21 minutos, como pode ser visto na imagem abaixo:
Todos esses anúncios, segundo a ProPublica, violam as próprias políticas do Facebook, e por esse motivo a rede social deveria ter marcado todos e impedido a circulação de ao menos alguns deles. No entanto, apesar das promessas que a empresa fez em fevereiro deste ano, após o processo, não houve qualquer restrição à sua veiculação.
Após o caso que levou ao processo, o Facebook informou que pediria às pessoas que se autocertificassem caso tentassem veicular qualquer anúncio excludente desse tipo. No entanto, a agência disse não ter encontrado qualquer restrição desse tipo, e todas as propagandas foram aprovadas quase imediatamente.
Fora isso, a agência diz ter conseguido realizar uma prática conhecida como “redlining” na plataforma. Em vez de impedir que a propaganda fosse veiculada a determinados grupos raciais, a instituição tentou fazer com que um anúncio de aluguel de imóveis não fosse mostrado a pessoas que morassem em determinados bairros de Nova York nos quais mais da metade dos residentes são afro-americanos. A rede social novamente permitiu a veiculação.
Resposta
Numa declaração enviada por e-mail à ProPublica, o Facebook afirmou que essa situação “foi uma falha” e que está “decepcionado” por ter “ficado aquém de seu compromisso”. A empresa reconheceu que os anúncios criados pela ProPublica deveriam ter ativado os sistemas de revisão e autocertificação que a empresa implementou no começo do ano, mas não foi isso o que aconteceu.
“Nossos sistemas continuam a melhorar, mas nós podemos fazer melhor”, disse a vice-presidente de gerência de produtos da rede social, Ami Vora, na declaração. “(…) vamos estender esse requerimento [de autocertificação] a TODOS os anunciantes que quiserem excluir alguns usuários de ver anúncios no Facebook”, continuou.