O Instagram divulgou nesta segunda-feira (8) um post em seu blog comprometendo-se a lutar contra o cyberbullying na plataforma. Dois recursos foram anunciados para auxiliar o usuário nesse sentido. Um deles desencoraja quem está prestes a fazer comentários negativos e o outro apresenta alternativas para a potencial vítima de cyberbullying. Mas será que isso é suficiente?

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O primeiro recurso, que usa inteligência artificial (IA), notifica usuários quando identifica que seus comentários são ofensivos. Segundo o Instagram, “essa intervenção dá às pessoas a chance de refletir e desfazer os comentários e impede que o destinatário receba a notificação da crítica. Desde os primeiros testes com o recurso, descobrimos que eles incentiva alguns a desfazerem seus comentários e compartilharem algo menos doloroso, uma vez que tenham a chance de refletir”.

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Já a ferramenta para a vítima de cyberbullying foi batizada de “Restringir”. Quando alguém é adicionado, seus comentários só são visíveis para ele próprio — o destinatário não os vê. Além disso, ele pode escolher se quer que outros usuários vejam esses comentários ou não. Para tal, deve aprovar ou não a interação. Os restringidos também não podem ver quando quem os limitou está online no Instagram ou quando tiver lido uma mensagem privada.

Estima-se que 80% dos adolescentes na faixa etária em que o cyberbullying é mais comum estejam no Instagram. A rede oferece um ambiente ideal para a prática: audiência, anonimato, ênfase em aparências e canais variados (de feeds públicos a conversas privadas individuais ou em grupo). Os próprios executivos do Instagram reconhecem que, ao tentar atrair mais usuários e atenção para a plataforma, cada novo recurso traz mais oportunidades de abuso. “Os adolescentes são excepcionalmente criativos”, diz Karina Newton, diretora de política pública do Instagram.

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As mudanças atuais vieram com Adam Mosseri. Depois que os fundadores do Instagram desligaram-se da rede social, no ano passado — supostamente em meio a tensões com o Facebook —, Mosseri assumiu o cargo de Head da plataforma. O executivo pretende definir uma nova era para o Instagram e diz que o bem-estar dos usuários é sua maior prioridade. Por isso, o combate ao cyberbullying dá o tom da agenda. Mosseri tem engenheiros e designers dedicados à causa: com base em extensa pesquisa, a equipe lança novos recursos e altera protocolos da plataforma.

Para tornar o Instagram mais agradável, seus fundadores, Kevin Systrom e Mike Krieger, passaram a usar o DeepText, uma ferramenta de IA pegaram do Facebook. Projetada para entender e interpretar a linguagem usada na plataforma, ela foi adotada pelos engenheiros do Instagram em 2016 para procurar spam. No ano seguinte, foi empregada para encontrar e bloquear comentários ofensivos, como insultos raciais. No ano passado, passou a ser usado para encontrar bullying em comentários. 

Uma semana depois de Mosseri assumir o cargo, em outubro de 2018, o Instagram anunciou que não usaria apenas IA para procurar cyberbullying em comentários. Um novo passo foi dado: máquinas passariam a identificar ataques em fotos, ou seja, a IA também analisaria as publicações — e não apenas os comentários, como ocorria até então.

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Desafio durante o treinamento

Quando os engenheiros querem “ensinar” uma máquina a fazer uma tarefa, criam um conjunto de treinamento — em termos leigos, uma coleção de material que ajuda o equipamento a entender as regras da nova função. O processo tem início com moderadores humanos que selecionam centenas de milhares de conteúdos e decidem se contêm ou não cyberbullying. 

Isso serve de exemplo para as máquinas, que, a partir de então, baseiam sua atuação neles. Esses padrões, entretanto, não contêm tudo o que um moderador já encontrou ou pode encontrar, mas a IA aprende com amostras adicionais. O objetivo é que, com a ajuda de engenheiros, ela fique melhor com o passar do tempo.

Hoje, o Instagram tem três classificadores de cyberbullying separados que examinam conteúdo em tempo real: um é treinado para analisar texto, outro é usado em fotos e há um específico para vídeo. Segundo o engenheiro-chefe, Yoav Shapira, eles ainda estão em fase inicial, o que significa que muitos casos de cyberbullying e ofensas passam despercebidos.

Isso é extremamente desafiador, especialmente quando comparado ao treinamento de uma máquina para buscar nudez, por exemplo. Afinal, é mais fácil reconhecer quando alguém está sem roupa em uma foto do que a ampla gama de comportamentos que podem ser considerados intimidação. Os estudos sobre cyberbullying variam enormemente nas conclusões sobre quantos sofrem com ele (variam de 5% a 72%) — isso porque ninguém concorda exatamente sobre o que é cyberbullying. 

“O que torna o assédio moral tão difícil de lidar é que a definição é tão diferente para os indivíduos”, diz Karina, diretora de política pública do Instagram. Além disso, os engenheiros precisam ter noção clara do que se qualifica e do que não funciona para construir um conjunto sólido de treinamento. A missão de Mosseri e sua equipe é justamente mudar isso.

Via: Instagram e Time