Neste domingo (16) o Internet Explorer completa 25 anos. E embora atualmente, para a maior parte dos usuários, ele não seja mais que uma lembrança, seu legado ajudou a moldar o mercado de tecnologia.
O Internet Explorer nasceu numa época em que o mercado de navegadores era dominado pela Netscape com seu Navigator, que na época era um produto pago e custava US$ 49 embora, na prática, fosse amplamente distribuído gratuitamente por provedores e em sistemas de BBS.
Temendo ser deixada para trás no nascente mundo da Internet, a Microsoft licenciou o código do navegador Spyglass Mosaic, um dos primeiros no mercado, e criou o Internet Explorer (logo apelidado de IE). Embora fosse menos compatível que o Netscape com os sites e tecnologias da época, como applets em Java, ele tinha duas virtudes: era gratuito, iniciando uma tendência que persiste até hoje, e tinha por trás a máquina de marketing da Microsoft para impulsionar sua adoção.
Screenshot do Netscape Navigator 3. Imagem: Browser Museum
Uma ameaça mortal
Se em 1995 o Netscape tinha entre 70 e 80% do mercado de navegadores, em meados de 1998 o Internet Explorer já havia alcançado seu concorrente, dividindo o mercado quase meio-a-meio, e logo o ultrapassaria. Em parte, graças a uma agressiva campanha de distribuição por parte da Microsoft: CDs com o navegador podiam ser encontrados em capas de revistas e kits de acesso de provedores, e a partir de 1998 ele passou a ser um componente do Windows, com o lançamento do Windows 98.
Incomodada com as táticas da concorrente, a Netscape fez uma denúncia ao Departamento de Justiça dos EUA, alegando que a Microsoft estaria se aproveitando de seu domínio no mercado de sistemas operacionais para sufocar uma concorrente, uma prática monopolista.
Uma investigação, amplamente coberta pela imprensa da época, foi aberta, tendo como ponto alto o depoimento de um Bill Gates visivelmente incomodado perante os advogados. Apesar das negativas da empresa, documentos internos deixaram claro que a Internet era vista como uma ameaça à posição da Microsoft, uma ameaça que deveria ser controlada a qualquer custo.
Screenshot do Internet Explorer 3. Imagem: Browser Museum
Como resultado o juiz Thomas P. Jackson decidiu que a Microsoft estava agindo de forma anticompetitiva, e que deveria ser dividida em duas empresas: uma desenvolvendo apenas o sistema operacional Windows, e outra desenvolvendo aplicativos, como o Internet Explorer ou Office.
A Microsoft recorreu, e ao final do caso ela e o Departamento de Justiça dos EUA chegaram a um acordo, onde a empresa seria monitorada por um comitê independente e teria de criar uma política interna contra comportamento monopolista, para que o episódio não se repetisse. Era tarde demais para a Netscape, que foi comprada pela AOL e definhou gradativamente, deixando o caminho livre para o Internet Explorer.
O que poderia ter sido
Em março de 2018 os autores Richard Blumenthal e Tim Wu publicaram um artigo no The New York Times reexaminando o caso, onde argumentam que o episódio fez com que a empresa se tornasse mais cautelosa em seus esforços no mercado, o que abriu as portas para a ascensão de concorrentes, como o Google e Facebook.
“Imagine um mundo onde a Microsoft tivesse conseguido monopolizar o mercado de navegadores. De posse de um monopólio triplo, composto pelo sistema operacional, principais aplicativos (Office) e o navegador, ela teria controlado o futuro da Web. O Google, que no início era uma pequena startup, teria de enfrentar uma luta injusta contra o Bing. A rede social padrão poderia ser a Microsoft Myspace, em vez do Facebook. E quem pode dizer se o Netflix, ou qualquer outro serviço de vídeo online, teria sido lançado?”, afirmam os autores.
Ironicamente, as empresas que puderam surgir como resultado desta cautela da Microsoft, como Google, Amazon e Facebook, hoje são gigantes que também estão em investigação por práticas monopolistas.
Diversidade faz bem
E o Internet Explorer? Ele só voltou a ser desafiado em 2002, quando surgiu o Firefox, inicialmente com o nome Phoenix porque nasceu das cinzas, e código-fonte, do Netscape. Em 2008 a estreia do Google Chrome selou de vez o destino do IE: mais rápido e mais estável, o navegador do Google rapidamente começou a roubar mercado da Microsoft, e em julho de 2012 ele superou pela primeira vez a participação de mercado do rival, com 33,8% do mercado, contra 32% do IE e 23,7% do Firefox.
A redistribuição do mercado de navegadores foi benéfica para os usuários. Firefox e Chrome adotaram, e ativamente promoveram, padrões da Internet estabelecidos pelo Consórcio da World Wide Web (W3C), fazendo com que a Microsoft tivesse que fazer o mesmo para que seu navegador se mantivesse competitivo.
Hoje, o velho selinho “melhor visualizado com o navegador XYZ” sumiu dos sites, e a escolha de um browser é mais resultado de uma preferência pessoal do que de uma necessidade imposta pela compatibilidade (ou não) com um site ou serviço popular.
A última versão do Internet Explorer foi o IE 11, lançado em novembro de 2013. Em 2015 ele finalmente foi substituído, pelo Edge, como navegador padrão no Windows 10. Curiosamente, hoje o Edge é baseado no código-fonte Open Source de seu principal rival, o Chrome.
Embora o caminho tenha sido turbulento, no final das contas o Internet Explorer indiretamente ajudou a criar a Internet mais aberta a que temos acesso hoje. E, por isso, merece ser lembrado.
Fonte: Engadget