* Com reportagem de Roseli Andrion
Nesta quinta-feira (12), a prefeitura de São Paulo anunciou, por meio da Secretaria de Mobilidade e Transportes e da São Paulo Transportes (SPTrans), o projeto-piloto que vai permitir que os passageiros usem cartão de débito, crédito ou pré-pago, bem como celular ou outro dispositivo (o que inclui pulseiras, relógios e carteiras digitais) com tecnologia de pagamento por aproximação (Near Field Communication – NFC) nos ônibus da cidade.
Assim, paulistanos e turistas poderão pagar a passagem de ônibus sem precisar usar dinheiro ou bilhete único. A novidade estará disponível a partir de sábado (14) e foi possível a partir de uma parceria entre concessionárias de ônibus, empresas de bilhetagem e as bandeiras de cartões de débito e crédito Visa, Mastercard e Cielo. O teste vai durar três meses e vão participar dessa primeira rodada 200 ônibus de 12 linhas da cidade.
Segundo o prefeito da capital paulista, Bruno Covas, a ideia é facilitar. “Esse sistema representa economia de tempo para o consumidor, que não vai mais precisar, por exemplo, ir a um caixa eletrônico para sacar dinheiro.” Além disso, pode facilitar a vida dos turistas que visitam a cidade e garantir um embarque mais fluido (já que não é necessário esperar por troco).
O objetivo da nova opção de pagamento não é substituir as já existentes, mas oferecer alternativas aos passageiros. Por enquanto, então, não há integração com outros meios de transporte (como metrôs e trens) nem a possibilidade de pagar apenas uma tarifa e usar mais de um ônibus — possibilidades oferecidas pelo bilhete único. “Já há negociações para permitir a integração, mas nada concreto ainda”, informa Edson Caram, secretário municipal de Mobilidade e Transportes.
O lançamento na cidade de São Paulo faz todo o sentido, já que dados da Visa Consulting & Analytics mostram que o município é o que mais usa a solução NFC no país. Para se ter uma ideia, o número cresceu mais de 600% se comparado ao ano passado. Os bairros em que o uso é mais frequente são bastante centrais: Pinheiros, Bela Vista e Cerqueira César.
Como funciona?
Fazer o pagamento com um dispositivo NFC é bastante simples: basta aproximá-lo do validador sinalizado para o uso da tecnologia — assim como se faz atualmente com o bilhete único. Tanto o cartão quanto os terminais habilitados têm o sinal de quatro ondas.
O valor correspondente à tarifa é, então, debitado diretamente na fatura (para cartões de crédito) ou na conta corrente (para cartões de débito), sem custo adicional ou taxas. Um mesmo cartão pode ser usado para o pagamento de até cinco passagens em sequência e, a cada meia hora, outras cinco. “Entende-se que esse é o tamanho da família brasileira média e, por isso, foi o número escolhido”, explica Fernando Teles, country manager da Visa do Brasil.
Paulo Cézar Shingai, presidente da SPTrans, conta que o órgão já prepara uma campanha educativa para ajudar os passageiros a compreenderem o funcionamento e o uso do novo sistema. “Isso é importante para que todos entendam como essa opção pode simplificar os processos.”
Disponível para dispositivos de qualquer país
Como o sistema aceita cartões emitidos fora do Brasil, visitantes de outros países também poderão usar o recurso. Muitos turistas estrangeiros já conhecem a facilidade, que é usada em cidades como Nova York, Londres, Singapura e Sydney, entre outras. “Ao ampliar as opções de pagamento no transporte público, São Paulo agora está nessa lista também”, destaca João Pedro Paro, presidente da Mastercard para o Brasil e o Cone Sul.
Aqui no Brasil, a primeira cidade a usar esse tipo de pagamento instantâneo na rede de transporte público foi Jundiaí (SP) — o processo começou em 2017. “Hoje, toda a frota de ônibus do município aceita o uso de dispositivos NFC”, conta Paro. Ele adianta que, em breve, a novidade deve chegar à Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). “Não vamos mais precisar ter inveja do Rio de Janeiro”, brinca. A empresa opera, atualmente, o mesmo sistema na carioca SuperVia.
Desde abril, o metrô do Rio de Janeiro oferece a facilidade em parceria com a Visa e a Cielo. Segundo a Visa, lá, a quantidade de transações por aproximação tem crescido quase 60% ao mês. Teles diz que isso é a prova de que benefícios como conveniência, rapidez e segurança são cada vez mais buscados. “Para se ter uma ideia do sucesso do projeto, 94% das pessoas que usam a solução no transporte público, seguem usando como hábito. Tenho certeza de que em São Paulo não será diferente”, prevê.
As empresas participantes asseguram que os dados dos usuários estão seguros. Segundo elas, não haverá compartilhamento das informações dos passageiros com a SPTrans nem entre as emissoras de cartões de crédito. “É como uma compra comum”, garante Teles.
Base de usuários no Brasil ainda é pequena
Atualmente, a quantidade de cartões com a tecnologia ainda é pequena no país, mas os envolvidos no projeto estão animados. “Ainda é algo bastante novo por aqui, mas, hoje, já falamos em milhões de transações”, informa Paro, da Mastercard. “No Chile, por exemplo, em um ano e meio, os pagamentos por aproximação atingiram 50%.” Nos EUA, foi semelhante: em dois anos, a quantidade de operações foi de 30% para 50%.
Segundo a Visa, seus emissores estão comprometidos a expedir cartões com a tecnologia e a incentivar o uso dos consumidores. “Com a chegada de soluções que afetam o público, a necessidade de acompanhar esse movimento também vai fazê-los se tornarem mais ágeis na emissão”, avalia Teles. Segundo ele, o Banco do Brasil, por exemplo, já emitiu mais de 1,4 milhão de cartões de débito e de crédito com NFC.
Linhas participantes e expansão
Nesta fase inicial, as linhas participantes são:
- 2590/10 — Pq. D. Pedro II/União de Vl. Nova
- 4031/10 — Metrô Tamanduateí/Pq. Sta. Madalena
- 6030/10 — Term. Sto. Amaro/UNISA-CAMPUS 1
- 917M/10 — Metrô Ana Rosa/Morro Grande
- 2002/10 — Term. Bandeira/Ter. Pq. D. Pedro II
- 715M/10 — Lgo. da Pólvora/Jd. Maria Luiza
- 908T/10 — Butantã/Pq. D. Pedro II
- 9300/10 — Ter. Pq. D. Pedro II/Ter. Casa Verde
- 9500/10 — Pça. Do Correio/Term. Cachoeirinha
- 5129/10 — Term. Guarapiranga/Jd. Miriam
- 807M/10 — Shop. Morumbi/Term. Campo Limpo
- 675R/10 — Metrô Jabaquara/Grajaú
Após o teste, uma avaliação dos resultados vai ajudar a definir se e quais outras vão ser adicionadas. “É preciso lembrar que, quem deve decidir qual meio de pagamento usar, é o consumidor. [Bilhete único e dinheiro] não são opções concorrentes nem excludentes. Com o tempo, vamos compreender quais são as escolhas do cliente e fazer as adaptações necessárias”, completa Paro.
Tecnologia no relacionamento com os usuários
Shingai, da SPTrans, prometeu, ainda, novidades tecnológicas no relacionamento com os usuários. Hoje, apesar de toda a tecnologia disponível, boa parte das situações só são resolvidas pessoalmente em um dos postos espalhados pela cidade — o que implica, muitas vezes, perda de tempo em filas enormes.
Quando um cartão de bilhete único é corrompido, por exemplo, é necessário aguardar três dias para que os créditos sejam transferidos. “Estamos desenvolvendo soluções online e em forma de app, mas ainda não há previsão de lançamento”, informa.