A JPMorgan, líder mundial em serviços financeiros, temia que os gigantes da tecnologia agissem cada vez mais como bancos. Com isso, a empresa tomou uma decisão surpreendente: ajudá-los a agir como tal.
Em 2018, o banco passou o ano desenvolvendo uma carteira eletrônica adaptada especialmente para empresas como o Airbnb, Lyft e Amazon que, segundo eles, poderia ajudar os mercados online.
O produto da JPMorgan daria às empresas de tecnologia a capacidade de fornecer aos seus milhões de clientes as contas bancárias virtuais, além de vantagens como empréstimos ou descontos no aluguel de casas. Quanto mais clientes usarem suas contas virtuais para pagar pelos serviços, menos as empresas teriam que gastar com taxas de processamento de pagamentos para terceiros.
“O maior medo de uma empresa é que, uma vez que eles estabeleçam um relacionamento do tipo comercial, não possam manter o usuário final e ele deixe o ecossistema porque agora tem um relacionamento direto com o vendedor”, declara Matt Loos, diretor administrativo da estratégia global de pagamento e grupo de produtos da JPMorgan.
A decisão de criar uma carteira exclusiva para cada empresa parece ir contra o que a própria JPMorgan faz, já que eles são responsáveis por processar grande parte dos pagamentos feitos em grandes lojas dos EUA. Porém, como forma de lucrar com isso, o banco impõe a condição de que, caso a empresa opte por utilizar seu produto, elas devem permitir que a JPMorgan lide com todo o processamento dos pagamentos e controle da movimentação de caixa.
Atualmente, o pesadelo do setor financeiro dos EUA é que uma empresa de tecnologia consiga replicar o sucesso do Alipay e WeChat na China, que oferecem sistemas de pagamento digitais sem a intervenção de nenhum banco.
O serviço prestado pelo JPMorgan
A operação de serviços do banco cobra uma taxa pelo chamado “pay in” – quando um cliente paga por um bem na plataforma – enquanto sua unidade de tesouraria gera receita manipulando o “pay out” para pagar fornecedores ou vendedores parceiros. O JPMorgan é o único banco americano a fornecer esses dois serviços juntos.
O banco já declarou que tem como principais alvos as dez maiores empresas de comércio eletrônico para a implementação de sua solução. Esse grupo inclui Amazon, Uber, Airbnb e Ebay.
“Estamos conversando com todos eles”, disse Takis Georgakopoulos, principal administrador de pagamentos da JPMorgan em Nova York. “Queremos que toda a indústria o use”, completa.
A empresa afirma que sua carteira eletrônica usa a tecnologia para simplificar o processo de reembolso de uma empresa de comércio eletrônico, além de agilizar pagamentos para vendedores.
O candidato ideal para o sistema teria de ser uma empresa que possui clientes internacionais que exigem transações transfronteiriças complexas. O objetivo é extrair clientes de concorrentes bancários tradicionais que não oferecem serviços de carteira eletrônica.
Obstáculos para sua implementação
Um dos grandes obstáculos em potencial está no fato de que algumas empresas de tecnologia podem encontrar maneiras de realizar os mesmos procedimentos sem depender do JPMorgan.
A Uber disse que está trabalhando em parceria com a empresa Green Dot Corp. para lançar carteiras eletrônicas que permitem que seus motoristas controlem seus ganhos, gerenciem e movimentem seu dinheiro, além de “descobrir novos produtos financeiros da Uber”.
No ano passado, o PayPal comprou a Hyperwallet, uma provedora de pagamentos, em uma tentativa de aumentar sua capacidade de lidar com pagamentos transfronteiriços para plataformas e mercados de comércio eletrônico.
Mesmo com a possível rejeição de sua solução de pagamento, o banco planeja lançar a tecnologia com pelo menos um cliente antes do fim do ano.
Via: Bloomberg