A Apple voltou a chamar a atenção do mundo da tecnologia nesta segunda-feira, 21, com o anúncio do iPhone SE. A surpresa, porém, ficou por conta do tamanho do novo smartphone, que, na contramão de sua própria linha de montagem e a do mercado, voltou a apostar em uma econômica tela de 4 polegadas.
Em 2010, após o lançamento do iPhone 4, Steve Jobs foi questionado sobre a insistência da Apple em lançar smartphones com apenas 3,5 polegadas, enquanto outras fabricantes já começavam a investir em telas maiores, beirando as 5 polegadas. O executivo disse que um dispositivo tão grande “não dá para segurar” e que “ninguém compraria isso“.
O tempo passou e a Apple seguiu a tendência do mercado sem Jobs. Em 2014, o iPhone 6 chegou ao mercado com 4,7 polegadas, enquanto sua versão Plus ostentava 5,5 polegadas. As mesmas dimensões foram usadas no iPhone 6s e 6s Plus, respectivamente, e o último aparelho da marca com 4 polegadas ficou para o quase esquecido iPhone 5s, lançado em 2013.
Ao trazer de volta um iPhone menor, porém tão potente quanto seu atual top de linha, Tim Cook, atual presidente da Apple, disse estar atendendo a um “desejo” dos fãs que continuam usando modelos antigos do celular porque não se acostumaram às telas maiores de hoje em dia. Segundo ele, a empresa vendeu 30 milhões de iPhones mais antigos e menores em 2015.
Número de vendas, afinal de contas, é uma métrica de extrema importância para a Apple. Em janeiro, a empresa revelou que, ao contrário do esperado, não houve uma queda no número de iPhones vendidos no último trimestre em comparação com o mesmo período do ano anterior. Mas também não houve aumento. As vendas ficaram praticamente estagnadas pela primeira vez em muitos anos, o que certamente não é para se comemorar.
Lançar uma nova linha de iPhones, paralela à principal, mais barata e com o apelo saudosista das 4 polegadas, parece ter sido a saída encontrada pela Apple para recuperar o ritmo de crescimento. O que pode incomodar alguns fãs mais puristas é que, com isso, não só a empresa se afasta ainda mais das convicções de Steve Jobs como se aproxima do modelo de negócios de rivais como a Samsung, que chegam a lançar de três a cinco modelos de smartphone por ano, muitas vezes sem grandes inovações, apenas para povoar o mercado.
Talvez seja cedo para dizer que a Apple vai mesmo multiplicar sua oferta de dispositivos como as rivais fazem, mas é inegável que a empresa reconhece nessa estratégia ao menos alguma vantagem – mesmo que seja temporária. A Apple nunca teve uma linha de celulares intermediários, e o iPhone SE vem, justamente, para preencher essa lacuna e satisfazer a demanda dos consumidores.
Se o iPhone SE é apenas um “remédio”, uma forma momentânea de recuperar as vendas, ou se é o princípio de uma nova linha com direito a upgrades anuais, ainda não se sabe. O que se sabe é que, embora tenha rompido com muitas das convicções de seu fundador, a Apple os reconhece. E está disposta e recuperá-los se for necessário.