A Boeing cobrou à parte das companhias aéreas por dois recursos de segurança que poderiam ter sido capazes de detectar antecipadamente falhas do sistema de sustentação dos aviões 737 Max 8. É o que diz uma reportagem do New York Times. Segundo o jornal, as ferramentas adicionais fornecem verificações dos dados coletados pelos sensores de estabilização dos aviões e poderiam ter alertado os pilotos sobre possíveis problemas. O modelo caiu em dois acidentes fatais na Indonésia e na Etiópia.

Diante das duas quedas e depois de linhas áreas ao redor do mundo suspenderem voos com o 737 Max, a Boeing comunicou, nesta quinta-feira, 21, que vai adicionar, sem cobrança de taxa extra, um desses dispositivos no modelo padrão. A melhoria implementada pela empresa será a “disagree light” (luz de discordância, em português).

O programa ativa uma luz de alerta no painel de controle se os sensores do ângulo de sustentação da aeronave, que determinam o quanto o nariz do avião está apontando para cima ou para baixo, estiverem produzindo códigos divergentes sobre o comportamento da máquina. Assim, o piloto pode confirmar a posição do avião de outras formas.

O outro recurso, que vai continuar sendo cobrado à parte, chama-se “angle of attack indicator” (indicador de ângulo de ataque, em português). O sistema exibe leituras dos ângulos emitidos pelos sensores, dando aos pilotos uma compreensão maior da estabilização do voo.

Ambas as ferramentas opcionais funcionam com o novo Sistema de Aumento de Características de Manobra (MCAS) existente nessas aeronaves. O software do MCAS consegue determinar se o avião está apontado para um ângulo potencialmente perigoso e então pode corrigir automaticamente o curso para evitar que ele caia.

Investigadores acreditam que dados defeituosos sobre a posição da aeronave, coletados pelos sensores desse sistema, podem ter causado o mau funcionamento do seu software. Não está claro se os dois recursos de segurança adicionais teriam evitado os acidentes.

Reguladores das atividades de aviação não estão forçando a Boeing a disponibilizar no 737 Max padrão qualquer um dos recursos opcionais citados. Além disso, nenhum deles é exigido pela Autoridade Federal de Aviação dos EUA.

A decisão da empresa pode ser interpretada como uma tentativa de melhorar sua credibilidade, a partir do investimento para aprimorar seus sistemas de segurança. A empresa também está planejando implementar, em abril, uma atualização de software para o avião.

Países do mundo inteiro, incluindo os EUA e o Brasil, suspenderam voos com o 737 Max 8 depois que relatórios de rastreamentos da aeronave, análises de órgãos reguladores e dados da caixa preta revelarem semelhanças nos acidentes na Indonésia e na Etiópia. No primeiro, em 29 de outubro de 2018, 189 pessoas morreram. Já a queda do equipamento da Ethiopian Airlines, no dia 11 de março, causou 157 mortes.