Nos conhecemos ano passado, no casamento do Edu e da Cinthia. Foi uma festa e tanto. Por isso que estou enviando neste e-mail algumas fotos que tiramos juntos. Você estava ótimo!’. Este tipo de mensagem pode ser bem comum e não duvido que você já tenha recebido – ou pior, tenha feito download do arquivo com as supostas fotos. E foi tão convincente, não é mesmo? Isso porque, nos dias de hoje, cada vez mais colocamos detalhes das nossas vidas, profissional e pessoal, nas redes sociais.

Garanto que, se eu olhar para alguns perfis por uns três minutos, conseguirei ter informações detalhadas sobre os hábitos, relação com familiares e amigos, restaurante favorito ou local de trabalho em 4 de cada 10 usuários brasileiros[1]. Todas essas informações estão além do cadastro básico para a criação de uma conta nas redes sociais, elas estão presentes nos posts, fotos e check-in que compartilhamos diariamente quando deixamos o perfil público. Essa negligência com a privacidade gera arrependimento: 1 em cada 10[2] usuários lamentam por ter postados fotos constrangedoras suas ou de outras pessoas durante uma festa ou evento social e a mesma porcentagem de pessoas se arrependem de ter postado informações pessoais, de trabalho ou financeiras em suas redes.

Por mais desconfortável que o constrangimento seja, suas consequências podem ser administradas. E é destacando pequenas situações da nossa rotina que quero mostrar que os perigos online são reais e que a atenção com a privacidade precisa ser levada a sério. Infelizmente, os mais jovens hoje em dia partem do pressuposto que os smartphones, redes sociais ou apps são seguros por default, quando não são.

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No caso dos smartphones, sempre vejo comentários dizendo que a segurança não é obrigatória, já que os golpes precisam do consentimento do usuário para serem bem-sucedidos. Isto sempre aparece quando fornecemos dicas simples como “não clique no link” ou “não baixe um app suspeito”. Elas podem ser consideradas básicas, uma vez que a maioria dos brasileiros (96%) têm consciência das ciberameaças financeiras, porém a realidade é que 1 em cada 3 já deixaram suas credenciais financeiras caírem em mãos erradas[3].

A justificativa para isso?  Nosso comportamento negligente. De acordo com a nossa pesquisa realizada em parceria com a Corpa, consultoria chilena, ele é responsável, muitas vezes, por nos colocar em perigo. Quando pensamos no uso da internet fora do Brasil, comparando com outros estudos globais, ele é focado na busca por informações ou para entretenimento, enquanto que os adolescentes e jovens-adultos brasileiros preferem utilizar a web para se manter em contato com seus pares e grupos de amigos com a mesma faixa etária. É neste contexto que concluímos que nós, brasileiros, damos mais importância ao mundo digital e deliberadamente compartilhamos detalhes da nossa vida real com o objetivo de criar uma imagem que desejamos de nós mesmos. Ao fazê-lo, ignoramos os riscos e expomos nossa privacidade.

Não pretendo convencer ninguém em deletar sua conta nas redes sociais e nem quero desmotivar os jovens quanto ao uso de seus perfis. O ponto principal da minha avaliação é fazer com que as pessoas reflitam sobre seus hábitos online e decidam sobre a melhor maneira de utilizar as redes sociais para seus objetivos pessoais e profissionais. Afinal, uma vez que adotamos comportamentos mais seguros, menos pessoas irão abrir e-mails com as fotos do casamento que supostamente estiveram.


[1] Pesquisa Diagnóstico da Cibersegurança, desenvolvida em agosto de 2018 pela CORPA para a Kaspersky Lab, considerou uma amostra de 2.326 entrevistas online com usuários entre 18 e 50 anos do Chile, Argentina, Peru, Brasil, Colômbia e México.

[2] Pesquisa Diagnóstico da Cibersegurança, desenvolvida em agosto de 2018 pela CORPA para a Kaspersky Lab, considerou uma amostra de 2.326 entrevistas online com usuários entre 18 e 50 anos do Chile, Argentina, Peru, Brasil, Colômbia e México.