Em 2007, quando a Netflix começou a mudar seu modelo de negócios, abandonando um serviço de entrega domiciliar de DVDs alugados para se transformar numa plataforma de streaming, muitos desconfiaram da iniciativa. Aliás, boa parte da comunidade financeira nos Estados Unidos viu com reserva a iniciativa, afinal eram muitos os obstáculos.

Além da questão tecnológica – transmitir vídeos pela internet na época era bem mais complicado do que é hoje, e bem menos gente tinha acesso a banda larga realmente de alta velocidade – havia, também, a questão dos direitos autorais, seria preciso conseguir as licenças dos criadores dos filmes e séries para entregar esse conteúdo de um jeito novo para o consumidor. Reed Hastings, que havia criado a Netflix 10 anos antes, em 1997, não se abalou e seguiu em frente.

O resultado todos sabemos: a empresa se transformou na maior geradora de tráfego da internet mundial e mais: também se transformou numa das maiores produtoras de conteúdo original, com séries, filmes e documentários espalhados pelo mundo, dentro de um orçamento que, esse ano, vai chegar aos 11 bilhões de dólares. Talvez mais que tudo isso, a Netflix educou o planeta todo a assistir conteúdo televisivo via internet, por meio do streaming…

Pouco depois surgiram competidores – especialmente nos Estados Unidos. O principal deles não chegou a atravessar as fronteiras norte-americanas – apesar de ser bastante popular por lá: o serviço Hulu é forte, mas não conseguiu fazer sombra à Netflix.

Não passou muito tempo, um outro oponente de peso entrou na arena: a Amazon, com seu serviço de streaming Amazon Prime. Um dado interessante é que, na verdade, o Amazon Prime Vídeo veio antes da Netflix fazer sua virada. Em 2006, a turma de Jeff Bezos começou a espalhar filmes via streaming na internet, mas ainda de maneira tímida. Apenas nos últimos anos – depois do sucesso da Netflix – a Amazon resolveu entrar de vez no jogo, aumentando seu orçamento e também apostando em conteúdo próprio.

Agora, esse cenário vai mudar radicalmente. Duas gigantes resolveram entrar no campo. A Apple e a Disney anunciaram seus serviços de streaming de vídeo – que devem entrar no ar ainda este ano. É verdade que os investimentos das duas em relação ao que a Netflix já faz podem ser considerados, digamos, tímidos. A Apple já gastou cerca de 1 bilhão de dólares com suas produções. O mesmo valor deve ser colocado pela Disney em suas produções. A diferença, no caso, é que a Disney vai gastar isso apenas com produções exclusivas para o streaming.

E essas produções vão se somar ao enorme catálogo que a empresa já carrega, que inclui toda produção dos estúdios Disney, da LucasFilm e da Marvel – entre outras. Além disso, a Disney é também é a dona do serviço Hulu que a gente falou no começo. E esse serviço também tem produções próprias nos Estados Unidos – que estarão à disposição da marca do Mickey para entrar na salada. O tempero final fica por conta dos canais de esporte ESPN, que também fazem parte do grupo. A Apple ainda não disse quanto vai custar se serviço. A Disney já anunciou seus preços: 6 dólares para os assinantes norte-americanos. Menos da metade dos 13 dólares cobrados pela Netflix no seu pacote mais básico. Ou seja, a turma do Pato Donald vai entrar nessa briga para valer. O bacana é que nós, consumidores, vamos poder assistir à disputa, literalmente, de camarote.